Para Vale, dados do 3º trimestre já estavam ‘na conta’; com medidas de ajuste fiscal, PIB pode crescer até 2% no ano que vem

Se as projeções do PIB para o ano que vem variam num escopo amplo, a MB Associados está na ponta mais confiante, com projeção de crescimento de 2% em 2017. “Não vejo excesso de otimismo, vejo realismo”, diz o economista-chefe da consultoria, Sergio Vale. Ele afirma que, com a saída de Dilma Rousseff e a escolha da nova equipe econômica, o País começa a entrar num cenário de “normalização”. Tudo isso depende, no entanto, de uma “melhora substancial no quadro fiscal”. A seguir, os principais trechos da entrevista concedida ao Estado.


Na sua avaliação, há um excesso de otimismo no mercado?
Eu não vejo como excesso de otimismo, vejo como realismo, na verdade. Nós tivemos, desde maio deste ano, uma percepção sobre a economia de que de fato ainda teríamos um resultado de PIB complicado no terceiro e quarto trimestres – na verdade até no segundo, quando a situação política começou a se solucionar. Então, os números ruins recentes estavam mais ou menos dentro da conta, não foi nenhuma novidade. Obviamente agosto foi um mês muito ruim para a indústria, mas há uma explicação específica do setor automobilístico, que foi mal e puxou para baixo. Esse resultado, porém, não anula a retomada do setor. Isso porque, na comparação com 2015, a indústria caiu menos em agosto do que em julho. Na projeção para setembro, já esperamos uma queda menor na comparação com o ano passado, de 3,2% (em agosto, o recuo ante 2015 foi de 5,2%) e uma alta de 2,5% em relação ao mês anterior. Quer dizer: você tem gradativamente uma retomada na economia, uma normalização. Não se esperava que houvesse uma melhora significativa em poucos meses. Já estava na conta que até o final do ano a gente ainda estaria em uma situação de recuperação.


Quando devemos ver o início de uma retomada efetiva na atividade econômica?
A nossa expectativa na MB Associados sempre foi de o quarto trimestre dar sinais mais claros e efetivos da mudança de rumo. Estamos prevendo estabilidade, um PIB de 0% na comparação com o terceiro trimestre, e queda de 1% na comparação com 2015.


Qual o papel da aprovação de medidas como a PEC do teto dos gastos e a reforma da Previdência para que os índices de confiança se traduzam na melhora mais concreta da atividade?
O papel é absolutamente essencial. Precisamos de uma melhora substancial do quadro fiscal. Por isso que a gente também considera o quarto trimestre como um marco que vai de fato modificar a trajetória da atividade daqui para frente. Isso porque temos duas coisas importantes acontecendo agora: uma é a mudança fiscal, que a gente vê com a regra do teto de gastos, que provavelmente vai ser aprovada. Outro fator é o Banco Central, que deve iniciar o processo de queda da taxa de juros, pela nossa percepção do que está vindo, de inflação mais baixa, com o IPCA de setembro. Então você termina o quarto trimestre com cenário de juros em queda e a regra do teto aprovada – e isso não é pouca coisa. A perspectiva com isso acertado este ano é de que em 2017 a gente volte a crescer de uma forma mais significativa. É possível.


Qual a sua previsão para o PIB do ano que vem?
Estamos com 2% de crescimento para 2017. Esperamos esse resultado desde maio deste ano, e a previsão se mantém.

 

Anna Carolina Papp

    

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